sábado, 21 de fevereiro de 2004

Galicismos, brasileirismos e primos

De vez em quando falo um português correto gramaticalmente, mas completamente louco. Eh muito engraçado "apreciar" o que falo/falei quando ha um outro brasileiro junto que não usa (ou consegue evitar muitos) galicismos, ou mesmo que use, mas que perceba o que acabei (ou acabamos) de falar.

Por exemplo, outro dia, contando a viagem à Veneza, eu disse que num dos dias ensolarados da viagem, a ponte estava "preta de gente", expressão altamente estranha em português, mas normal em francês (le pont était noir de monde ou fonéticamente le pom été noar de mond). E por aih vai. Deveria ter dito que a ponte parecia o Japão, mas bom, não saiu.
Rimos pacas, e ficamos achando/procurando outros galicismos.

Acontece com qualquer um que venha morar aqui (ou que vah morar em qualquer pais estrangeiro).

Ha algum tempo também disse que eu "fazia patins" e uma amiga me olhou, meio de lado e me disse que não sabia que eu tinha mudado de emprego e que estava trabalhando numa fabrica de patins... Pois é, em francês a gente fait du patin (fé di patã) sabado, domingo, durante a semana...

O que é engraçado é que à vezes cometo brasileirismos falando francês. Principalmente traduzindo expressões para deleite de alguns amigos quando compreendem o que eu quis dizer ou a imagem na lingua portuguesa.
Por exemplo, para nos é normal dizer colocar as duas pernas na mesma perna da calça e meter os pés pelas mãos. Agora dizer que j'ai mis les deux jambes dans la même jambe du pantalon (jé mi lê dêh jãmbe dã la même jãmbe di pãntalon) e j'ai mis les pieds par les mains (jé mi lê piê par lê mãn) o povo te olha com um olhar meio estraaaanho... Ou então mandar alguém plantar batata (planter des pommes de terre ou melhor dizendo plãntê de pome de terr).

Pior é quando chego na invenção de novas palavras, criando meu dicionario justasariano. Outro dia, falando não me lembro mais de qual assunto exatamente, nem com quem eu estava falando, eu disse que seria necessario pressionner le bouton (pressionê le buton). Se meu interlocutor fosse um brasileiro, teria compreendido na hora (dado uma risadinha), mas era um indigena, que me disse eu estava falando errado, que devemos dizer presser (pressê), mas que o correto mesmo é appuyer (apiuiê).
Fiz como alguns jogadores de futebol, peguei uma palavra em português e francisei a coisa sem pensar.

Mas é muito mais engraçado fazer estas coisas quando alguém compreende as duas linguas, acabamos falando e criando um patuah bem engraçado e muitas vezes ridiculo aos olhos de outros, mas que nos divertem durante as longas horas de inverno.

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